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Mostrando postagens de janeiro, 2016

Todos os seres humanos são "filósofos"

O filósofo italiano  Antonio Gramsci (1891-1937), há cerca de um século atrás, já nos alertava  para a necessidade de se combater o preconceito de que a Filosofia é uma atividade intelectual muito difícil, restrita a uma minoria de inteligência supostamente privilegiada. Para ele, “todos os seres humanos são filósofos”, pois, de algum modo, todas as pessoas, sem distinção, lidam, convivem, trabalham com a Filosofia e a utilizam no seu dia a dia, mesmo que não se apercebam disso. Afinal, a Filosofia está presente “na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião” enfim, “em todo sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e agir” que caracteriza o que convencionalmente se denomina de “folclore” e do qual todos participam. A Filosofia está presente na linguagem porque esta não é pura e simplesmente um amontoado de “palavras gramaticalmente vazias de conteúdo”. Ao contrário, ela é um “conjunto de noções e conceitos determinados”, muitos dos quais derivados da Filoso

A Filosofia Intercultural

De uns tempos para cá está surgindo uma nova corrente chamada Filosofia Intercultural . Um de seus mentores, o filósofo cubano Raul Fornet-Betancourt (1946- ), propõe outras fontes para se pensar a filosofia. Então, se nós olharmos para a filosofia como um exercício que pensa o seu tempo e que, a partir dele, faz o exercício da reflexão, tudo serve como elemento para fazermos filosofia. Portanto, hoje, há de se ter uma preocupação de como trazer  a filosofia de uma forma que ela consiga provocar o jovem a pensar o seu tempo. Por isso, pensar o ensino de filosofia a partir das questões de gênero, da violência contra as mulheres, da problematização de um certo padrão estético (ditadura do estético), do esvaziamento das representações no campo político, tudo isso nos reporta às questões éticas que são fundamentais no exercício responsável e comprometido do pensar. Sabemos que a Filosofia tem um papel fundamental de fazer palpitar no jovem o desejo de pensar, o desejo  de não fica

As mulheres e o exercício de pensar

A questão das mulheres, ou a questão de gênero de uma forma mais ampla, sempre esteve presente na filosofia. Entre os textos clássicos da filosofia grega, encontramos vários pensadores do sexo masculino que trazem as questões das mulheres, numa espécie do que significa  o papel e o sentido da mulher. Em Aristóteles, por exemplo, percebemos a referida mulher como um ser inferior, com uma incapacidade racional. É uma leitura que a inferioriza e que a coloca num papel menor dentro dessa grande atividade que é o pensar. Simone de Beauvoir (1908-1986), em seu livro “O segundo sexo”, já discutia essas questões, refletindo o quanto as mulheres, historicamente, estavam próximas da natureza, representando um senso comum que traduz e espelha o próprio pensamento, a história das ideias no Ocidente. Ou seja, se enfatiza a ideia de que a mulher está muito mais ligada à emoção, ao instinto, ao irracional. Essa dicotomia que se construiu e que delegou à mulher uma emoção e ao homem uma racionali

Reflexões sobre o racismo

A palavra  raça , apesar de ter origem biológica, não tem base científica para definir, e muito menos classificar, seres humanos. Apesar disso, a sociedade faz uso da palavra raça com sentido político, isto é, para definir diferenças entre pessoas. Para legitimar posições racistas, usa-se uma diferença biológica (que é superficial, pois não há raças entre os humanos) ou cultural (religião, modo de se vestir ou falar), justificando privilégios e exclusão social. O acusador coloca-se como superior em relação à vítima do racismo. Quando exibimos as diferenças, de modo que ninguém seja agredido ou excluído ou colocado em uma condição de inferioridade, não se trata de racismo.  Dizer que André é negro, Paulo é branco, Mário é loiro, etc. não significa racismo. Dizer que Luisa tem um cabelo trançado muito bonito e Márcia tem um cabelo loiro dourado, não é racismo. No entanto, usar essas diferenças para discriminar ou tentar humilhar ou “diminuir” o outro consiste em racismo. Por

Reflexões sobre a velhice

A escritora Simone de Beauvoir (1908-1986) procurou refletir sobre a exclusão dos idosos em sua sociedade, mas do ponto de vista de quem sabia que iria se tornar um deles, como quem pensava o próprio destino. Para ela, um dos problemas da sociedade está no fato de que cada indivíduo percebe as outras pessoas como meio para a realização de suas necessidades: proteção, riqueza, prazer, dominação. Desta forma, nos relacionamos com outras pessoas priorizando nossos desejos, pouco compreendendo e valorizando suas necessidades. Esse processo aparece com nitidez em nossa relação com os idosos. Em seu livro, a pensadora demonstra que há uma duplicidade nas relações que os mais jovens têm com os idosos, uma vez que, na maioria das vezes, mesmo sendo respeitado por sua condição de pai ou mãe, trata-se o idoso como uma espécie de ser inferior, tirando dele suas responsabilidades ou encarando-o como culpado por sobrecarga de compromissos que imputa a filhos ou netos. Mesmo em situações de

Reflexões sobre a humilhação

A humilhação é um sentimento de desigualdade. Consiste em uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da desigualdade de classe, isto é, a angústia que se sofre quando alguém se depara com um abismo chamado desigualdade, o que corresponde à percepção de que, enquanto um está em posição superior; o outro se coloca, violentamente, em uma posição inferior. A desigualdade experimentada do lado de fora é internalizada como sofrimento, ao qual muitas pessoas já estão habituadas. Dessa maneira, além da humilhação crônica que atinge os pobres, como resultado das  desigualdade econômicas e políticas, experimenta-se uma espécie de angústia assumida pelo humilhado nas mais variadas manifestações de sua existência. Mas quando uma pessoa é humilhada? Quando se mostra a ela uma diferença que a põe em situação de inferioridade. Por exemplo, quando um chefe grita com o funcionário, quando um adulto ou jovem ignora ou maltrata um idoso, quando uma mulher é agredida pelo marido