A revalorização do ser humano na Idade Moderna

Chamamos modernidade ao período que se esboça no Renascimento (séc.XVI), desenvolve-se na Idade Moderna e atinge seu auge na Ilustração, no século XVIII. O paradigma de racionalidade que então se delineia é o de uma razão que liberta de crenças e superstições, funda-se na própria subjetividade e não mais na autoridade, seja do poder político absoluto, seja da religião.
De fato, estava sendo gestado um novo período da história ocidental, com mudanças em amplo espectro: sociais, políticas, morais, literárias, artísticas, científicas, religiosas e também filosóficas.
No plano socioeconômico, caracteriza-se pela passagem do feudalismo para o capitalismo, relacionada com o florescimento do comércio, o estabelecimento das grandes rotas comerciais, o predomínio do capital comercial e a emergência da burguesia.
No plano político, observa-se a centralização do poder político nas  mãos dos reis e a formação dos primeiros Estados nacionais modernos (Portugal, Espanha, França e Inglaterra). Nesse cenário desenvolviam-se o absolutismo como doutrina e forma de poder político; o mercantilismo como conjunto de doutrinas e práticas econômicas, as grandes navegações  e a expansão comercial/marítima, que deram origem à descoberta do Novo Mundo e o processo de colonização das Américas.
No plano religioso, a Igreja Católica perde, aos poucos, seu poder de influência sobre Estados e de dominação sobre o pensamento. A Reforma protestante provoca a quebra da unidade religiosa europeia. Incorporando a nova mentalidade em ascensão marcada pelo humanismo. Rompimento com a concepção passiva do ser humano, entregue unicamente aos desígnios divinos, ao reconhecer o trabalho como fonte legítima da riqueza e da felicidade. Além disso, concebia a razão humana como extensão do poder divino, o que colocava o indivíduo em condições de pensar, pelo menos até certo ponto, com mais liberdade e de responsabilizar-se por seus atos de forma mais autônoma.
No plano epistemológico, a contraposição ao pensamento medieval estimulou a recuperação da cultura Greco-latina, agora sem a intermediação da religião, o que denotava a laicização do pensamento:  se antes o foco da reflexão era a teologia, na modernidade prevalece a visão antropocêntrica.  A invenção da imprensa possibilita o acesso de um número maior de leitores aos clássicos gregos e romanos, favorecendo o desenvolvimento do humanismo. De modo semelhante, as obras científicas filosóficas e artísticas surgidas então também atingiam um número cada vez maior de pessoas, o que incidiu sobre o grau de consciência e de liberdade de expressão.
O que vemos afirmar-se na modernidade é uma característica importante do pensamento: o racionalismo, a confiança no poder da razão. E uma das expressões mais claras desse racionalismo é o interesse pelo método. Observa-se a criação de  novos métodos de investigação científica; o desenvolvimento da ciência natural, impulsionada pela confiança nas possibilidades da razão, que questionava os princípios da ciência escolástica e os dogmas do cristianismo. É verdade que o método sempre foi objeto de discussão da  filosofia, mas nunca com a intensidade e a prioridade que lhe dedicaram os filósofos do século XVII.
Se até a Idade Média os filósofos partiam do problema do ser, na Idade Moderna  voltam-se para as questões do conhecer. Enquanto no pensamento antigo e medieval a realidade do objeto e a capacidade humana  de conhecer não eram questionadas (exceto no ceticismo), na Idade Moderna o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos eventualmente  conhecê-las. Portanto, as perguntas são outras: “o que é possível conhecer?”, “Qual é o critério de certeza para saber se há adequação entre o pensamento e o objeto?”

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